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O dono do pedaço

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O texto a seguir foi publicado no dia 28/10/2012, na edição especial de decoração da revista O Globo. Para mim, foi uma honra fazer parte do projeto e poder ocupar 1 página da publicação com os nossos pensamentos. Obrigada, Isabela Caban, pelo convite e por sempre acreditar no Casa de Colorir, desde o comecinho! E, principalmente, obrigada a você, que lê, que participa, que compartilha da mesma filosofia e que faz o blog sair do virtual e tomar proporções nunca sonhadas! Para quem não é do Rio ou que não pôde comprar o jornal ontem, fiz questão de dividir o texto também por aqui. :)






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Móveis de madeira, tons claros, estampa que não “cansa”, muito branco e um leve toque da cor... areia. “Tá neutro? Tá combinando? Então tá correto.” E assim, muitos donos de casas monótonas seguem em frente, satisfeitos (ou conformados?) com o trabalho realizado na sua decoração. O problema é que, na maioria dos casos, essa satisfação toda dura pouco tempo, pois não demora muito para que o dono comece a sentir falta de um pouco de tempero, de cor, de história pra contar. O que esses moradores têm em comum? Decoraram suas casas sob os olhos atentos e imperdoáveis de uma força quase sobrenatural que limita, censura e impede qualquer intenção original e criativa de prosperar. Mal que costuma atingir, de forma geral, homens e mulheres adultos desprovidos de grandes fortunas para investir em decoração. Em outras palavras, o tal do medo de errar.







Nesses dois anos de muita troca com os leitores do blog, posso afirmar que a maioria dos e-mails que recebo são de pessoas cujas casas são assim: decoradas com todo o cuidado do mundo para que tudo combine entre si. No entanto, por incrível que pareça, não estou falando de moradores orgulhosos e ansiosos para dividir comigo a casa linda e correta que possuem. Pelo contrário, estão, em sua maioria, aflitos, buscando ajuda para imprimir suas digitais naquele espaço, já que mal se reconhecem na própria casa. O conselho - vindo dessa decoradora amadora que ainda se atreve a escrever tal coluna – é quase sempre o mesmo: liberte-se do medo de errar. O sofá correto? É aquele que quase te dá um abraço. O tapete ideal? Aquele com a sua cor preferida. A cortina certa é aquela que você trouxe de viagem e que sempre te traz boas lembranças. Eles combinam entre si? Não? Mas e com você, combinam? Então dever cumprido. O lado bom de não ser um profissional no assunto é justamente poder decorar com menos regras e mais instinto. E fazer as pazes com a própria casa é, na minha opinião, muito mais importante do que acertar na decoração.





Se me permite o clichê, errar faz parte do processo. Aliás, de qualquer processo. Se você entender que o erro é uma possibilidade  - e que não é o fim do mundo – você se liberta para decorar com menos razão e mais emoção. Se não gostar? Faz de novo, mas diferente. Se der errado, tente outra técnica e não repita mais essa. Para disfarçar? Faça algo melhor por cima, ora bolas. Se enjoar? Aproveite até que esse dia chegue e descubra a liberdade de poder mudar sempre que der na telha. Se vai dar certo, isso é com você. Mas uma coisa eu te garanto: se der errado, você vai continuar aqui. A Terra seguirá girando, o engarrafamento ainda vai estar lá e o sol vai continuar brilhando. Tudo o que vai acontecer é você gastar mais tempo e material. Isso é ruim? É. Mas não se morre disso, já está comprovado pela ciência.





O segredo para minimizar os desastres que fazem parte do percurso desse aprendizado é manter os pés no chão. Se você nunca conviveu com tintas e pinceis, não escolha aquela cômoda antiga herdada da bisavó para fazer uma reforma radical. A essa altura, você já se conformou de que o erro é iminente, certo? E não temos mais medo dele, certo? Por isso, sejamos comedidos e pacientes para que a confiança vá aumentando passo a passo. Nunca pintou uma parede? Então, em vez de escolher a maior parede da sala para isso, fique com aquela lá do cantinho, menor e mais fácil. Deseja reformar um armário inteiro para deixá-lo com mais cor? Em vez de “queimar cartucho”, que tal tentar antes uma mudança no armarinho do banheiro?



Quando finalmente chega a hora de montar  a sua casa, aquele espaço que você vai chamar lar, vai por mim, você deve ter muito menos motivo para temer e muito mais para comemorar. Decorar não é uma equação, mas sim uma festa. Se você só tem convidados monótonos, sua festa estará fadada ao tédio. Mas se sua festa for uma feliz combinação de convidados totalmente distintos, mas que te agradam e te fazem bem, me diz, tem como errar?




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